Mas...
E a fome?
Por onde anda
aquela fome
que outrora
eu me orgulhava,
porque logo em seguida,
eu bem sabia,
saciá-la ia,
sempre segurei com força, a faca,
e quando ela me escapava,
eu sempre soube onde encontrá-la?
Ah, minha doce juventude...
Também sempre soube,
fazer surgir o queijo,
quando este me faltava
Mas agora...
Agora falta-me fome
Sobra-me angústia
Restam-me restos de sonhos,
de um tempo distante,
sendo arrastados,
pelo rio da tecnologia
pelo rio da correria
e da modernidade...
Pelo rio da artificialidade...
Que em mim secou
e que levou, junto, minha fome
Esta, a acenar,
com um lenço branco,
como se pudesse adivinhar minha dor,
enquanto ia,
a desaparecer,
lentamente,
dor por dor,
no horizonte
Apenas em sonho,
devoro o queijo,
a lambuzar-me
faca suja
boca suja
sal doce
odor saboroso...
Tal qual outrora
Tenho em minhas mãos
O que só consigo devorar em minha mente
Tenho em minhas mãos um mundo
Onde eu só consigo vivenciar em minha mente
Mataram-me a fome
Resta-me doar,
o que me sobra,
não posso deixar apodrecer,
gente que sobra,
a fome de não ser
Resta-me o gosto do sal das lágrimas,
o doce desgosto,
a vida com gosto,
saborosa,
e a fome que me escapa...
De tanto sentir, não sinto fome
Livro-me do queijo,
isso é fácil,
tudo bem,
é só doar...
Mas a faca...
Esta ainda permanece em minhas mãos
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