segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Seu Noel

Eu adorava quando chegava o Natal
Eu gostava de você, Papai Noel
Eu te esperava ansioso
Quem não gosta de ganhar presentes?
Como era bom acordar no dia 25

Mas quando eu cresci, seu Noel
Passei a ter raiva de você
Quando eu ia brincar na rua, com meu brinquedo novo, de vez em quando passava umas crianças por perto e eu já não brincava com o mesmo prazer de antes
Que pai é você que não distribui presentes a todos os seus filhos?

É, seu Noel... eu me recuso a te chamar de pai.
Já li cartas de crianças, enviadas para você, pedindo sabe o que?
COMIDA
Que pai é você, seu Noel, que esquece de alguns irmãos meus?
Você, com seus cabelos brancos, que deveria dar o exemplo,
esquece dos que não têm quase nada

Desculpe-me a falta de educação
Desculpe-me não respeitar seus cabelos brancos
Mas já que você tem o direito de esquecer alguns irmãos meus,
eu também tenho o direito, sem remorso nenhum, de esquecer você

domingo, 14 de novembro de 2010

ALGUMA COISA ACONTECEU

Às vezes me perco em uma linha reta
Às vezes ando como um mestre em curvas perigosas
Às vezes me falta voz para pedir uma informação
Às vezes volto rouco para casa de tanto cantar e tocar numa roda de violão
Hora eu grito, hora eu me calo
Hora eu quero paz, hora eu quero é muito mais

Às vezes preciso de minha casa, de meu quarto, mais que qualquer outro lugar
Às vezes quero estar só, apenas na companhia de minhas músicas, meus livros, minha poesia, meus discos
Outras vezes, quero ir para rua sem hora para voltar...
e pode até ser uma segunda-feira

Tem dias que parece que estou em marte, ou na lua, flutuando
Outros dias estou bem aqui, ao vivo e a cores...Real
Como quando passo por um lugar que acabou de acontecer um atropelamento
Às vezes acordo bem ali, vendo o corpo estendido no chão

Às vezes estou no claro, às vezes no escuro
Mas eu gosto mesmo é da penumbra
E quando estou lá,
o claro me acha escuro,
o escuro me acha claro
e eu acho é graça disso tudo

Às vezes estou tão feliz e vem alguém me perguntar:
- O que você tem que está triste hoje?

Não me incomodo que me estranhem de vez em quando
Às vezes, até eu me estranho
Mas quem mandou, se meter nessa coisa de infinito, nesse caminho sem fim?
Agora é tarde,
mas sou eu mesmo que não quero parar tão cedo
Só uma pessoa pode me parar: a morte
E eu morro de medo é de não viver

Sigo andando...
e escrevo
Alguém tinha que me entender
Abraço uma folha em branco e, como num processo de transmutação,
minhas palavras deitam nela
Durmo em paz

Ao ler, meses depois, às vezes nem eu entendo, nem eu me compreendo
Mas sei que naquela noite, alguma coisa aconteceu

domingo, 7 de novembro de 2010

AGONIA

Há tempos tento ser poeta
Só consegui sentir como tal
Um castigo para esta pobre alma
Pois só a poesia terminada
É que alivia este mal

Quantos poetas de tanto sentir
Bebeu, fumou, morreu, amou
Condenam-me se assim sou
Veneram os versos deles
Mas não sentem o que cada um passou

Mas uma coisa é certa:
Quem me condena
não compreende um poeta
Muito menos a vida
Pois esta, se não for sentida
É morte que respira

Respiro e sinto
Vivo e morro a todo momento
Nas mortes renasço crescido
Sinto só pelo que penso
e que não termina escrito

Agonia
Sentir uma dor e não terminar em poesia
Só os que sentem sabem:
escrever é a nossa anestesia