terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

...passava despercebida por qualquer um, sua beleza, a misteriosa, invisível, a verdadeira, já que seu rosto angelical, e seu sorriso fácil e cativante, chamavam tanto a atenção. Por isso, por trás dessa beleza artificial (já que foi eleita pelos homens e não por um Deus), seu olhar levava "um que" de tristeza. Mas não era uma tristeza triste, como a comum... Era uma tristeza necessária, além do compreensível, que só pode ser percebida pelo mundo das sensações, do mistério, como se ela a levasse para o paraíso, onde lá, não houvesse ninguém. Com frequência, sentia-se vagando pelo espaço, sozinha... Não, não era triste. É que, no mundo em que vivemos, ser feliz, abraçar a alma de corpo e alma, é que é um caminho triste. Já a alegria artificial dos homens, inventada e já tão distorcida, fazia passarem por ela e só verem o que o sol (ou a luz) podiam iluminar... Passavam despercebidos para o sol, ainda mais forte, que brilhava dentro dela.
          Quase sempre andava só, apesar das companhias, muitas até agradáveis. Mas ela não queria andar... Queria voar. Queria se livrar das grades, já tão grandes ao mundo, e tão invisível aos olhos da grande maioria... Para ela, não. O artificial sufocava-lhe, enquanto a adolescente crescia. E, inevitavelmente, revoltou-se. Rasgou toda sua beleza exterior e jogou-a na lata de um lixo. E para todos que a olhavam com segundas intenções e desejos, para suprirem, apenas isso, suas necessidades, ela nem olhava... Ignorava... Ria por dentro... Era essa uma de suas diversões preferidas...
          Todos os dias, sempre que chegava em casa, ia para a varanda e ficava a contemplar o céu, as estrelas, as nuvens (que às vezes passeavam, que sempre flutuavam leves), e a lua... Ah, a lua... Gostava quando ela estava cheia... Tanto quanto ela. Ali, naqueles momentos, a sensação de paz deitava-se sobre ela, como um manto a cobrir-lhe levemente o corpo. E aos poucos, como se o tecido se despisse por si só, sem nenhum movimento seu, sentia-se nua... Como a lua. E leve, como as nuvens, como o vento, sereno, a soprar suavemente seus cabelos, o que fazia-lhe fechar os olhos, e sentir-se inteira, em sintonia com o Universo e com a natureza, apenas sendo ela, sem a "mão humana" a interferir, sem nada, para te ferir. Ali, sozinha, sentia-se acompanhada, sem precisar saber por quem, sem precisar, sequer, que essa companhia seja visível... Sentia-se acompanhada... Não se importava, corpos não lhe diziam nada, o mundo lá fora dizia-lhe isso. E as lágrimas, tão comum nesses seus momentos, não doíam... Pelo contrário, aliviavam... Lavavam sua alma... Levavam sua alma para longe, muito longe........do artificial.
          Chorava, sorria, fechava os olhos, suspirava, coração disparava... e sentia-se em casa... Sozinha. Flutuava em pleno chão... Estado pleno de espírito. Ali, não havia planos... Apenas sentia. A única coisa que doía, somente isso, era quando tinha que ir dormir, para chegar o outro dia, já que ela sabia, que sempre seria o mesmo dia de todos os dias. Doía-lhe ter que voltar à realidade ilusória, tão vivida pelo os que não vivem. Mas sempre chegava a hora, os compromissos do outro dia. Demorava para ir ao seu quarto, e ia lentamente, em paz... Sentava em sua cama, tirava sua roupa e deitava abraçada com sua leveza, como se estivesse abraçada ao grande amor de sua vida. E quem passasse por ela, mesmo o mais ignorante dos homens, veria ali deitada, um anjo. Dormia sorrindo, com um semblante de paz, uma luz resplandecia, até aos olhos dos que nada enxergam, tal qual a lua... Iluminada. Mas o que não podiam enxergar, era que entre seus sonhos, havia um em especial: 

não acordar nunca mais.

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