sexta-feira, 7 de março de 2014

       Chuva torrencial desde cedo em São Paulo. Apesar de diminuir a intensidade, enquanto eu trabalhava, esta continuou a cair, sem parar um só instante. Depois das 20:30h, saio do trabalho, dessa vez fiquei até mais tarde por vontade própria, meu chefe precisava de mim e quis ficar... Por um motivo realmente necessário, não me incomodo. Fui para o terminal e, devido à chuva, a quantidade de pessoas por lá era muita. Meu ônibus demorou muito mais do que o normal. É chato, mas até aí, tudo bem. Enquanto esperava, deliciava-me com as palavras de meu querido Fernando Pessoa, sob o heterônimo de Álvaro de Campos.
        Depois de um bom tempo e já dentro do ônibus, vem-me uma ideia na cabeça e, sem papel, começo a escrever sem parar no próprio livro que lia. No livro, o tal Álvaro de Campos a fazer uma homenagem a Walt Withman, tecendo palavras que eu teceria para fazer uma homenagem a Fernando Pessoa. Porém, o que eu escrevi, foi sobre outra coisa, não havia homenagens. E fiquei bastante feliz com as ideias que veio-me repentinamente sem parar, até que minha alma gozou. E foi nesse estado de relaxamento e alegria que cheguei em casa, ainda debaixo de chuva.
        Porém, ao chegar e abrir a porta do meu quartinho que fica no fundo de uma casa, vejo água a passear pelo chão. Minha mala, que fica no chão, deitada, encontrei molhada. A capa do meu violão, também, a parte de baixo, já que este estava de pé. Olho embaixo da cama, e uma poça d'água a crescer lentamente. Tirei tudo que pude de mais importante, enxuguei o que deu pra enxugar e, enquanto isso, a chuva caía, ainda que fraca... Mas persistente. Meus panos de chão já estão em ação, mas é muito pouco para a quantidade de água. Sacrifiquei um pano de prato novinho, que mal usei, para tentar controlar um dos lugares de onde a água tá vindo, infiltrações das paredes. Também muito pouco. Foi a vez do meu lençol de me cobrir, para colocar ao lado da cama, encostado na parede para conter a água. Mesmo assim, a água continua a crescer. Agora, enquanto escrevo, tento ter mais ideias, para resolver a situação. E ouço o barulho da chuva aumentar sobre o meu telhado.
       O que fazer? Sei lá... Peguei meu violão, toquei uma música de Raulzito, depois fiz um cigarro ainda com o tabaco que me resta, peguei meu violão novamente, e toquei outra música. E enquanto tento dar um jeito aqui e ali, vou falando sozinho, comigo mesmo, brincando comigo mesmo... Para que se estressar? Agora, sem saber mais o que fazer, vou continuar tentando fazer alguma coisa... Desesperar-se? Jamais perderia um momento desses para rir... Tá sendo trabalhoso pra caralho... Estou ficando sem saída... Mas aprendi a viver de outra forma... Uma pequena analogia... Estou me divertindo... Agora tenho que ir brincar um pouco mais, a água está avançando... E nada vai me afogar.

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Peguei o pano e passei pelo chão molhado, para depois torcê-lo em um balde. Enquanto isso, o som rolando em meu notebook. Enquanto isso, eu cantava em inglês, sem saber quase nada de inglês, e ria comigo mesmo da situação. A soar em meus ouvidos, a trilha sonora do filme Na Natureza Selvagem. Saldo: um balde cheio. Vou lá fora lavar as mãos, e vejo o céu se abrindo, as nuvens indo embora. Primeiro alagamento em casa, sozinho, a gente nunca esquece. Por que sair da zona de conforto, se lá tudo é menos trabalhoso? Justamente, para brincar de viver... Aumento o som, acendo outro cigarro, e talvez dê para dormir sem me preocupar com isso... Mas ainda é cedo para saber... Ainda há muita vida pela frente.

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