sexta-feira, 14 de março de 2014

            Eu devia ter meus 16, 17 anos... Essa garagem foi histórica, marcante, tocante, e tudo que se possa escrever semelhante a tais palavras... Se bem que palavras não são nada, perto do que foram esses momentos, muitos, muitos momentos. Sobretudo, profundos. Para começar, tocávamos, cantávamos e bebíamos, numa liberdade que nossos 17 anos permitiam... Eu sempre saía dessa garagem de alma lavada (Limpa, que nenhum Omo seria capaz... Brilhando). Foi lá que ensaiamos para o meu primeiro show, com público, palco, etc. Meus amigos loucos, sonhadores, amantes da arte. Até hoje, sempre comento sobre esses dias... E posso dizer, sem sombra de dúvida, que fazem parte dos melhores dias de minha vida... Nessa garagem, eu nunca fui tão eu. Pela música, pelas conversas com esses amigos, por estar em um lugar, como disse um deles: essa garagem era em outra dimensão... E era... A dimensão da essência.


            Não bastasse, a casa desse meu amigo ficava bem em frente à BR 101, que cruza minha cidade natal, Estância. Entre um intervalo e outro, sozinho, ou conversando com alguém, jamais conseguiria descrever o meu sentir, o meu olhar, ao fitar o asfalto, os carros e caminhões passando... Mais de dez anos antes de minha viagem com Clarice. Antes, durante e depois dessa viagem que virou livro, sempre lembrei desses dias... As ligações que faço com o passado. Ali, no auge da minha juventude, eu apenas sentia cócegas em minha alma... Jamais poderia imaginar onde isso iria dar. Na inocência da minha juventude, jamais poderia imaginar como minha essência iria me cutucar, para chegar onde cheguei e fazer o que fiz.
Hoje, quando abri o facebook e vi essas fotos que uma amiga postou, que também fazia parte da turma, o coração acelerou... E o melhor: a satisfação de ter seguido meu coração, de não ter me acomodado, de não ter preferido o conforto de um emprego seguro, como eu tive, um tempo, em minhas mãos. Ainda bem, minha alma, essa mesma de mais de dez anos atrás, essa mesma que já não é mais a mesma, jamais me abandonou... Amor... E quem me ama, como ela, faço qualquer coisa... Qualquer sacrifício... E hoje, vendo essa foto, posso dizer que tenho sido um bom amante... Mas como diria meu queridíssimo Belchior: “minha normarlista linda, ainda sou estudante, da vida que eu quero dar”.


            Um tempo depois, ainda fizemos um outro show, eu e meu amigo Helmir, dois violões e duas vozes... Liberdade era a palavra de ordem... Descalço, em cima do palco, para eu nunca esquecer, de sempre tocar os pés no chão de minha essência... Como se eu fosse esquecer... Como se meu amor, minha alma, fosse me deixar esquecer... Mas relembrar é sempre bom... Tempos que não voltam jamais, mas que jamais vão embora... Tempos em que os sonhos começavam, ardiam na alma e que, ao mesmo tempo, tudo parecia tão fácil de resolver... Ah, a doce juventude... O tempo passa... O passado não... E o futuro, não estou nem aí... Vivendo bem o presente, posso me dar ele de presente...

               Mais uma vez, Belchior: “Até parece que foi ontem, minha mocidade... Meu diploma de sofrer, de outra universidade... Minha fala nordestina... Quero esquecer o francês... E vou viver as coisas novas que também são boas... O amor, o humor das praças cheias de pessoas... Agora eu quero tudo... Tudo outra vez...”


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