quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Rio de Janeiro - Final

                Depois de cinco dias tentando as opções que eu tinha para ficar no Rio, nada deu certo. Momento duro de indecisão, já que eu tinha ido para ficar e iria voltar em tão pouco tempo, caso eu decidisse realmente voltar. Mas ficar seria um risco grande, envolveria ter que usar grana de meus pais, que, diga-se de passagem, não tem sobrando. Se fosse para procurar um emprego e um lugar mais barato para morar, teria que ser feito de outra forma, agora já não dava mais tempo. Porém, eu poderia tentar. Arriscar? Arriscado? Essa dúvida pairou incessantemente sobre minha cabeça. Dias angustiantes. Sempre vinha à minha mente o fato de ser um lugar interessante para o que estou buscando. Mas nem tudo pode ser feito de qualquer jeito, não gosto de envolver outras pessoas financeiramente. Porém, correr riscos, não é tão difícil para mim... Um milhão de interrogações. Até então, uma conclusão passava ao longe. E, minha linha de raciocínio, tinha dado um nó.

                Até que, vendo que a certeza do que eu deveria fazer, a decisão certa, fugia ao meu alcance, aproveitei o visual do lugar onde eu estava, lá no alto, onde dava para ver os prédios do bairro de Botafogo lá embaixo, além das costas do Cristo lá em cima, para, simplesmente, relaxar. Dei voltas por ruas desconhecidas e estava lendo o livro “Os miseráveis”, de Victor Hugo, que estava tocando minha essência de forma genial... Deixei, apenas, rolar. Dei-me um prazo, de mais três dias, para resolver essa situação. Se nada acontecesse, provavelmente eu voltaria ou, se eu mudasse de opinião, teria esse tempo para decidir. Enquanto isso, eu descia para a praia, e ia vender meus livros, onde a maioria das pessoas passava indiferente. Outro dia, fiz diferente, e saí andando pela areia, oferecendo aos cidadãos que se encontravam sentados em suas cadeiras de praia, ou na areia mesmo, conversando, bebendo, se divertindo e/ou se bronzeando. Claro, isso ajudou para me manter mais esses dias. E relaxando, aos poucos, os problemas foram ficando de lado.

                Até que uma paz indescritível foi se fazendo dentro de mim. Quando eu pensava que tinha que tomar uma decisão difícil, não era mais a angústia que tomava conta de mim, e sim, um sorriso leve, delicioso, acompanhado de cócegas em minha barriga, como se minha alma dissesse para mim: “Isso é vida, meu caro. Não há vida sem dúvidas... Não tenho dúvida”. A cada hora do dia que passava, eu sentia essa paz penetrando meu corpo. “Não se cobre tanto... Se não for agora, será de outra vez... Cadê aquela sua leveza sobre as coisas da vida, que você meso diz, quando se faz algo com amor? Nenhuma decisão é errada. Apenas pode-se adiar alguma coisa, e, mesmo se não for a melhor decisão, ainda assim, sei que aprendeu coisas maravilhosas... Toda essa experiência, a viagem desde à Bahia, até os acontecimentos no Rio, o trabalho no quiosque, o reencontro com um bom amigo que não via há um bom tempo, as novas amizades, pessoas de outros países, a experiência de vender poesia na praia, em um lugar que, há pouco, era totalmente desconhecido para você... Tudo isso, está sendo impressa em sua bagagem de vida, então, relaxe e siga sua intuição... Qualquer decisão é válida”... Foi isso que minha alma sussurrou em meus ouvidos, calmamente, com um ar de sapiência, como se soubesse exatamente do que estava falando... Ela, já leve, apenas gozava... E eu gozava esses momentos totalmente novos em minha vida.

                O número 22, o número que me acompanha desde a viagem com Clarice, não parava de aparecer... Apareceu mais do que qualquer outro momento de minha vida. Mais uma vez, não tomo isso como uma ciência, apenas, uma brincadeira, que está cada vez mais séria... Mas sempre uma brincadeira... Será que era um sinal para eu ficar ou para eu ir embora? Isso já não me importava mais. Se ele estava querendo me dizer alguma coisa, eu interpretava que era, apenas, que eu estava no caminho certo. E do sábado para o domingo (o dia em que eu teria que comprar a passagem), fui dormir na santíssima paz.
               

                 Há alguns meses, antes dessa viagem, eu sentia que minha alma estava pesada, apesar das coisas boas estarem acontecendo... Mas ainda não estava 100%, e eu estava angustiado. Quando decidi ir para o Rio, meio na loucura, foi justamente em busca dessa paz e, até não ter encontrado essa paz, era o que mais pesava sobre a minha decisão de voltar. Mas depois que minha alma renasceu, em terras cariocas, foi que eu entendi: minha alma precisava parir, mais uma vez, e era no Rio a maternidade desse novo nascimento. Voltando ou ficando, eu já tinha resolvido o que eu estava querendo resolver. Junto com tudo isso, com todas as experiências que passei, também senti-me mais preparado e cheio de ideias para escrever um romance, algo que eu sempre quis e que sentia ainda não estar pronto. Claro, ainda vou desenvolver bastantes coisas, aprender muita coisa, mas, dentro de mim, eu já senti que ele nasceu... Essa renovação, trouxe-o junto.
               
                Antes de viajar, eu também estava em dúvida se contratava ou não um agente literário, já que eu estava sem grana, para divulgar o livro. Mas com essa leveza adquirida, sem pestanejar, usei meu cheque especial para assim fazer. Sem medo, pensei: depois eu recupero a grana. Era a minha intuição comandando a parada e, quando a decisão vem com cócegas na barriga e com essa leveza profunda, eu me rendo: é preciso correr o risco. E, com certeza, eu mergulhei nessa idéia, justamente, por ter ido para o Rio... Mais uma coisa boa que essa viagem me trouxe. Não era, necessariamente, para ficar... Voltei, e iniciou-se uma nova etapa, a da divulgação mais abrangente do livro. E, alguns frutos já vêm aparecendo, como em um jornal de Porto Alegre, em um jornal de Teresina, um blog de Joinville e em um site da internet especializada em livros... E ainda virá mais. E, se não vier, já foram dados mais alguns passos importantes, não tenho pressa... Não quero resolver tudo de uma vez, não quero chegar lá logo... Nem sei, na verdade, onde quero chegar... A única coisa que eu preciso, é sentir que a minha vida, abraçada com minha essência, esteja andando... E disso, eu não posso reclamar.

Como diria um dos meus mestres, Raulzito:

“É chato chegar a um objetivo num instante...
Eu quero viver essa metamorfose ambulante”


                Dez dias depois, ganhei uma viagem maravilhosa de presente, para Maceió e Recife. Visitei algumas livrarias e pude divulgar mais meu livro, em outros estados. Essa viagem surgiu assim, meio que do nada... Ou será o universo conspirando? Como sou um simples mortal e não sei responder com certeza, eu vou seguindo minha intuição para ver se as repostas aparecem. E posso garantir: os resultados têm me alegrado bastante... Não falo de vendas especificamente, que também estão aparecendo, mas, sobretudo, falo da vida.


                Para concluir, repito um texto já publicado, quando recebi o convite para viajar para Maceió, viagem que já foi concluída... Só para manter a ordem dos acontecimentos... Nele, algumas linhas sobre minha volta do Rio:

                Fui para o Rio de Janeiro, há pouco tempo atrás, com a intenção de ficar, mas o vento, assim como soprou para eu ir, dez dias depois, soprou para eu voltar... E voltei... Sem crise, muito pelo contrário, com muita paz. As coisas que “deveriam” acontecer para eu permanecer lá, não aconteceram. Não fiquei triste, não reclamei, nem analisei... Apenas, obedeci. Lembrei de Leminski, que, inclusive, tem esse “poeminha” dele, no meu livro: “Não discuto com o destino / O que pintar / Eu assino”. Conheci pessoas interessantíssimas, plantei sementes vendendo alguns livros e voltou aquela tão almejada paz, que eu estava sentindo tanta falta... A ressurreição. E ainda nem deu nem tempo de eu escrever sobre essa última parte de minha estadia no Rio, até a minha volta, e hoje recebo um telefonema, sendo convidado para ir para Maceió, na quinta, e para Recife, no Sábado... Uma viagem de presente. Detalhe: esse amigo eu conheci durante a viagem com Clarice, quando permaneci um mês em Campos dos Goytacazes, no Rio, em uma república que fui parar meio “por acaso”, devido ao motor da Kombi que quebrou e precisou ser desmontado e fui obrigado a ficar lá um tempinho a mais.
Além disso, poderei visitar outro amigo, que hoje está em Olinda (vizinho de Recife), que dei carona, do norte do Espírito Santo até Itabuna, na Bahia, também durante a viagem com Clarice. Esse cara, que se fantasia de palhaço quando vai trabalhar na rua (e que estava com o nariz de palhaço quando me pediu carona), anda com livros meus, divulgando meu trabalho por aí. Os anjos em minha vida. Aliás, ele conheceu a atual companheira dele por causa de um livro meu, segundo ele mesmo... Artista de rua, artista da vida, faço questão de visitar o casal.

                Quando fazemos o que amamos, de peito aberto, não sei o que é, não sei o que acontece, mas parece que as coisas vão se encaixando. Uns chamam de Deus, outros de coincidência, outros dizem que nada mais é do que seu esforço, outros dizem que é tudo junto... Para mim, não importa o nome da coisa... O que importa é a coisa... Não sou chegado em definições e, sim, em acontecimentos... Quem sou eu para dizer o que é isso tudo? Pode até não ser nada... Só sei que estou em paz...

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