terça-feira, 6 de maio de 2014

Quando nasceu minha dor
Essa dor de saber que a dor é inevitável
Essa dor de saber que esse ser tem um coração desregulado
E que enxerga que muitas dores poderiam ser evitadas...

Cuidei dela, como de uma filha cuidaria
Ou como cuidaria, da amada companhia
Brigamos muitas vezes, é claro
Quantas vezes chorei, desesperei?
Mas, quantas vezes, também, ensinaste-me a perdoar?



E o tempo passou...



Hoje,
é ela quem cuida de mim...

Ensinou-me até a fazer poesia

Foi ela que me deu coragem para largar meu emprego seguro,
e sair viajando, seguro de que, muitas coisas, eu aprenderia
Deu-me forças até para escrever livros
Sábia dor, sábia agonia

Ensinou-me tudo, sobretudo, a amar
Coisa que parece rara,
nessa era de tanta tecnologia

Amada dor...
Nessa arte de amar,
já não sou tão amador
Foi só eu aprender a lidar
Aceitei você do jeito que és
Parte inevitável da vida

E, apesar de ter reclamado tanto, tantas vezes, tantos dias...
Era tudo raiva
Você mesma sabia que até eu mesmo sabia
Era porque a ferida ainda ardia
E ainda arde
E sempre arderá

Mas, agora, é diferente
Quando estou chorando,
agora eu sei:
não vens para me fazer mal
Pelo contrário,
é para me fazer companhia

Foi com você, amada dor
Que aprendi o que é a verdadeira alegria...

De viver

A dor, pode até ser só dor para alguns
Mas, para mim,
é a vida parindo alegria

É um casamento

Muitos não suportam

Pedem divórcio

E, de algum modo,
se acomodam

Ou  vão embora...


Amada dor, você bem sabe
Nunca te abandonei
Nunca me abandonastes...

Foi a única que me acompanhou todos os dias
Na saúde ou na doença
Na tristeza ou na alegria

Hoje, pego-me perguntando, devaneando, leve, sereno, fumando um cigarro:

- Querida dor... Sem você... O que será que eu seria?

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