Eram
5:00h quando acordei. A manhã, ainda espreguiçando-se, se anunciava.
Espreguicei-me, coração em disparada, e fui tomar meu banho. Mais um dia
diferente em minha vida, viagens, novos horizontes: Rio de Janeiro.
Tive
que ir de ônibus, por causa do preço da passagem: entre o dia em que decidi ir
e o dia que viajei, apenas uma semana. Outro motivo que me fez ir de ônibus,
foi uma parada na Bahia, de três dias. Mas isso não foi problema, pelo
contrário: passaria por vários lugares que passei com Clarice, o que seria (e
foi) maravilhoso. Na nova viagem, lembranças próximas da viagem anterior.
Os
últimos meses em Aracaju foram sufocantes, um período de inúmeras dúvidas, sem
saber o que fazer e nem para onde ir, depois de lançado e divulgado o livro.
Precisava de algo novo, do tamanho do sufocar, mas não tinha expectativa nenhuma,
o que me sufocava ainda mais. Até que, cansado de estar cansado, resolvi
relaxar, deixar as coisas acontecerem naturalmente, tentando livrar minha mente
das preocupações. E foi aí que as inúmeras coincidências trouxeram-me ao Rio. Mesmo
assim, até então, o sufocar permanecia, mesmo com essa nova caminhada à vista.
Além disso, poucas garantias para essa nova empreitada: eu estava me jogando.
Passado
os três dias na Bahia, saí de lá com uma dor do tamanho do Universo, daquelas
de doer além do além, o que eu chamo de fratura exposta da alma... Coisas do
coração. E foi assim que fiz a viagem de quase 24h até o Rio: uma dor feroz, a
excitação de uma nova caminhada e as lembranças bem próximas de uma viagem
inesquecível, que, claro, sempre me toca de uma forma profunda e peculiar. Um
caldeirão de emoções fervia dentro de mim, o que, muitas vezes, transbordava...
As velhas lágrimas... Doce e sal se misturavam.
No sábado pela manhã,
desembarquei na rodoviária do Rio, em reforma, o que dificultou um pouco até eu
chegar a um taxi, já que eu estava empurrando uma mala gigante, pesada (cheia
de livros), uma outra, também pesada, em outra mão, o violão nas costas e a
mochila virada para frente. Dormi quase nada no ônibus, e quase nada na noite
anterior, ainda na Bahia, era quase impossível. Ao chegar no Hostel, a primeira
surpresa: o preço que o amigo, que já está morando aqui, me disse que seria para passar o mês, para eu
morar, não deu certo. Isso já complicou um pouco meus planos. Mas tinha outras
opções. Liguei então para o senhor que conheci em Campos do Goytacazes, durante
a viagem com Clarice, que dividiu quarto comigo, já que ele trabalha e mora no
Rio. Outra surpresa: já não trabalha e nem mora mais por aqui. Nesse exato
momento, ele está de mudança. Ainda havia outra opção: o namorado de uma amiga
minha já tinha cedido, gentilmente, um quarto em sua casa durante um mês, de
graça, e só não fui direto pra lá, porque fica em São Gonçalo, depois da ponte,
o que dificultaria, já que o trabalho no quiosque seria na praia do Leme...
Seria muito longe. Claro que lá seria a melhor opção, independente da
distância. Mas com o preço do Hostel em que eu estava esperando e pela
localidade, compensaria o Hostel. Entrei em contato com essa amiga também, só
que ela viajou e só retornará na quinta e, até lá, não dá pra resolver nada.
Não teve jeito, tive que ficar no Hostel, mesmo com o preço acima do que estava
programado. Tudo isso, misturado ao meu coração ainda fragilizado, com a dor feroz
que ia e voltava quando bem entendia. Foi tenso. Mesmo assim, bola pra frente.
Eram os primeiros obstáculos da viagem, era a nova realidade, já nas primeiras
horas depois do desembarque. E se assim foi, que assim seja. Para que lamentar
ou reclamar?
Esse amigo veio ao meu encontro,
logo que cheguei, e juntos fomos para a praia (a famosa praia de Copacabana, que
fica há uns 20 minutos daqui), para eu começar a explorar as ruas do Rio de
Janeiro. Levei o violão, sentamos na areia, começamos a tocar e a tomar uma
cerveja, para brindarmos esse encontro, que teve início em Minas Gerais (os
dois viajando), que continuou em São Paulo (onde ele morava e onde eu estava,
ainda viajando) e, agora, no Rio, mais uma vez, nós dois viajando. Não sou de
tomar banho de mar, mas dei um mergulho para o batismo. Enquanto tocávamos, a
energia da cidade penetrava pelos meus poros, algo dentro de mim se
transformava, arrepiava-me e, de vez em quando, eu gritava, quando dava
vontade, a esmo, no meio da multidão que curtia a praia: caralhooooooo. Turistas
nos filmaram, pessoas curtiam ver a gente ali tocando, tudo novo, de novo.
Minha alma já voltava a respirar normalmente, aos poucos... Doses cavalares de
viver.
Uma das coisas que me fez vir
assim tão rápido, tomar a decisão tão rápido, é que esse mesmo amigo já tinha
encontrado um lugar para eu trabalhar, o quiosque que já falei. Depois da
praia, fomos para o apartamento em que ele estava morando (que é da dona do
quiosque), comemos um pedaço de pizza e ficamos lá conversando, já colocando as
idéias relacionadas à nossa arte para funcionar. Como eu estava muito cansado,
falei que só começaria a trabalhar no início da semana, no quiosque. Mas lá
fiquei sabendo que ia ter um evento à noite e que só tinha esse amigo para
atender. Pensei, pensei, não teve jeito: além de dar uma força, eu conseguiria
uma grana, o que me ajudaria a pagar o Hostel. E assim foi... Uma noite sem
dormir, trabalhando duro, duas noites mal dormidas, as doses de vida e uma
dor... Um trilhão de coisas passaram pela minha cabeça... Será que fico aqui
mesmo no quiosque? Não sei se vale a pena. Será que consigo me virar só vendendo
poesia na praia? Será que não estou me precipitando? Não conseguia tomar uma
decisão e, enquanto isso, corria pra lá e pra cá, para atender as mesas, lavar
pratos, fazer sucos, etc. Chegamos no quiosque às 18:00h e saímos às 6:00h,
depois de limpar o lugar e desarmar todas as cadeiras e mesas. Hora de dormir?
Ainda não... Cansado estou agora, enquanto escrevo... Só depois continuarei...
Tava lendo e lembrando da música Lance de dados...
ResponderExcluir"Daqui não tem mais volta, pra frente é sem saber
Pequenos paraísos e riscos a correr..."
Essa é a música =)
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