Cada dia que passa
Cada vez mais...
Vou lapidando o meu silêncio
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
terça-feira, 29 de outubro de 2013
domingo, 27 de outubro de 2013
Rio de Janeiro - Parte 2
Depois
de trabalhar doze horas, praticamente ininterruptas, e ajudar a limpar o
quiosque e fechar todas as mesas e cadeiras, às 6:00h, nada de ir para o hostel
dormir. Andando pelo calçadão do Leme, em direção à Copacabana, pessoas já
andavam pra lá e pra cá, ou corriam, para seu passeio matinal ou para seu
exercício do dia... Nós, eu e meu amigo poeta, companheiro de trabalho nessa
noite, longe de estarmos preocupados com a nossa saúde, pelo menos naquele
momento, sentamos em outro quiosque para tomarmos a saideira. E a conversa foi
ficando tão boa, que esqueci todo o meu cansaço, tanto dessa noite, como das
outras duas mal dormidas. Depois, ainda chegou um cidadão, de São Paulo, que
estava no evento em que trabalhamos, e sentou com a gente... Ficamos até quase
13:00h. À essa altura, estávamos em Copacabana e cada um seguiu seu rumo. Eu,
que mal tinha acabado de chegar na cidade, que mal sabia como voltar para casa,
saí andando, sozinho, pelo calçadão, para depois entrar pelas ruas do Rio, e
procurar lembrar o caminho que passei poucas vezes. Perdi-me um pouco, mas,
perguntando, me achei.
Finalmente,
descansar. Já ouvi falar que, quando dormimos, nosso cérebro meio que arruma a
casa lá dentro, fixa o que você aprendeu durante o dia e, com ar de
brincadeira, pensei que meu cérebro ia ter muuuita coisa para arrumar.
Finalmente, depois dessas experiências, um lugar novo, um domingo totalmente
diferente de todos os domingos que já vivi (sem tirar a beleza de outros
domingos que vivi, igualmente belos... Apenas mais um diferente), fui dormir.
Acordei à noite e, finalmente, fui explorar o hostel. No quarto que eu estava
hospedado, quatro camas, sendo todas beliche. Em duas camas na parte de baixo,
dois sujeitos de Mato Grosso (que não me lembro se é do sul), militares,
estavam passeando. Eu estava dormindo em uma dessas, na parte de cima e, ao meu
lado, um chileno de Santiago, também na cama de cima. Em outra, uma espanhola
na cama de baixo, e um sujeito na parte de cima, que foi embora logo no outro
dia que cheguei e não deu tempo para conversar com ele. E na última, apenas uma
chilena, da cidade de Molina, dormia na parte de baixo.
O
hostel fica no bairro de Botafogo, há uns 25/30 min a pé, da praia. Na rua
Álvaro Ramos, tem uma travessa, uma rua estreita, com casas e alguns prédios
pequenos e, no final dela, a escada para o hostel. E não é uma escadinha
qualquer. Eram uns vinte degraus e degraus um pouco acima do tamanho padrão das
casas. Isso, para chegar, apenas, na recepção. O prédio se estendia para cima,
já que o final dessa rua era, justamente, um morro (não necessariamente uma
favela), o que dava uma puta vista lá de cima, inclusive, dava para ver o Cristo
de lá. Da recepção até os quartos, posso calcular, mais ou menos, uns trinta
degraus. Na parte mais alta, depois de explorado o local, encontrei um sofá e sentei-me,
quase deitado, sozinho, com o livro “Os Miseráveis”, de Victor Hugo e continuei
minha leitura, iniciada durante a viagem, dentro do ônibus. A cada página,
aberturas mágicas dentro de mim. Dentro desse contexto todo, onde era tudo novo
e, misturado com a dor que de vez em quando ainda batia (mas já bem menos), eu
sentia transformações preciosas, lindas de sentir. As cores pareciam mais coloridas,
a visão que eu tinha lá de cima, de vários prédios e as luzes acesas de uma favela,
além do Cristo, banhado por uma luz lilás, já que era noite, tudo aquilo
fazia-me sorrir sem parar, por dentro e por fora. E o livro trouxe-me muitas
coisas que eu queria que chegasse em mim, palavras que me tocavam e que eu não
sabia onde estava exatamente... E foi chegando. O que seria de mim sem os
livros, já que, ao meu redor, estão tão preocupados com outras coisas? Como eu
estava me sentindo bem, que sensações dessa noite, que dia para entrar para a
história da minha vida... Como não correr riscos? Sem isso, nada disso iria acontecer...
Pelo menos comigo, eu preciso disso.
Não
demorou muito tempo, fui dormir, cedo, ainda tinha sono para “pagar”. Ainda
estava cansado e foi o que eu fiz até o outro dia, segunda-feira. À tarde,
encontrei novamente meu amigo loucão poeta, para conversamos sobre o que iríamos
fazer no outro dia, para vendermos nossos livros. Levamos o violão, fizemos um
som na praia, até o sol se despedir da gente por mais um dia e dar lugar para a
lua, linda, surgir para nós. Ele foi trabalhar, eu voltei para o hostel, dessa
vez já sem me perder.
Estava
no quarto lendo meu livro, quando a chilena chegou e começamos a conversar. Fiz
várias perguntas a respeito do Chile, quis entender também um pouco do contexto
da vida dela e, depois, já com outras pessoas no quarto, ela tocou violão,
músicas chilenas, para ampliar meus horizontes. Ali, ao vivo e à cores, de
forma amadora, do jeito que eu gosto... Tocou três músicas e depois cada um foi
seguir o seu caminho. Preparei minhas coisas para a terça-feira, li mais um
pouco, lá em cima, e depois fui dormir... Em paz... Uma paz fudida, diga-se de
passagem. Meu espírito só sorria por dentro... Se acaso uma lágrima aparecesse,
de vez em quando, agora já era bem de vez em quando mesmo, como apareceu, era
coisa de minha cabeça, tão difícil de controlar, todos nós sabemos. Mas isso já
nem era problema, o tempo já estava tratando disso. O que, de fato, importava,
eram essas portas que eram abertas dentro de mim. Na escuridão das profundezas,
eu via luzes, brilhando, chamando-me para a vida.
Acordei,
peguei minha mochila e meu violão, e fui encontrar o poeta na praia. Ele levou
uma mesinha, que ficava praticamente no chão, um pano para estendermos nossos
livros, seu violão, uma cadeira de praia e um caixote, daqueles de fruta, de
feira. Era nossa sala de estar, como ele batizou. Enquanto os passantes
passeavam, tocávamos violão e gaita, com o chapéu no chão. Em alguns momentos,
ele se levantava e recitava poesias nossas, para as pessoas que passavam... e
riam... ou estranhavam... ou ignoravam. Nós, apenas, ríamos... Sem estranhar
nada disso. Apenas, nos divertíamos. Estava faltando alguma coisa, pensei.
Então saí para ir ao mercado, comprei um litro de cachaça (a mais barata,
claro) e um refrigerante de 2 litros. Quando voltei, ele tinha vendido um livro
seu para uma senhora, que aproximou-se toda simpática, da nossa simpática sala
de estar, segundo ele me contou. Era o primeiro livro vendido do dia.
Mais
adiante, passa um sujeito, só de short, fazendo sua corrida matinal e para para
nos cumprimentar. Antes de sair, disse que voltava e, meio sem jeito, falou
para o meu amigo que ele era muito bonito. Ele sorriu um pouco tímido, mas só
pela surpresa. Acabamos rindo por diversão mais que qualquer outra coisa,
depois que ele foi embora. Enquanto o álcool subia às nossas cabeças,
brindávamos aquelas doses cavalares de vida. E ali, nos divertindo, ficamos
umas duas horas. Saldo: um livro vendido.
Caminhamos
mais um pouco, fomos montar nossa sala em outro lugar. Já eram quase 14:00h e
nosso almoço foi apenas um pacote de biscoito, ou de bolacha, como preferirem.
Claro, sempre que sentamos com um violão em lugares assim, surgem uns malucos,
dos mais variados tipos. Um, parecia Raul Seixas e tocou umas músicas suas no
violão, às vezes babando, mas tava lindo de ver. Não tinha como não rir das
suas letras e, ao mesmo tempo, do seu jeito engraçado de falar. Outros pararam
também para trocar idéias, outros artistas de rua, como um que fazia o Charlie
Chaplin há quatro anos pelo calçadão do Rio. E enquanto íamos para esse outro
lugar, encontramos o sujeito que fazia seu cooper, que tinha prometido voltar,
e paramos para conversar um pouco. Trocamos algumas palavras, e ele levou um
livro de cada um de nós. E nas duas horas que ficamos parados nesse outro
ponto, apenas dois livros meus, o de frases, o “140 caracteres”, foram vendidos.
Antes, para o sujeito interessado em meu amigo, tinha vendido o livro “Clarice,
minha menina”. Umas 15:30h, arrumamos nossas coisas, meu amigo tinha que trabalhar
, e fomos embora.
“Vida
louca, vida... Vida breve... Já que eu não posso te levar, quero que você me
leve...” Não tenho noção de como encaram essas minhas atitudes, de sair assim
de repente para um lugar, ou de viajar com uma Kombi, como fiz ano passado, de
largar o Banco, emprego concursado... Não sei. E nem me importa saber. A única
coisa importante, a única coisa que eu busco nessa vida, é, justamente, viver.
E ao chegar no hostel e ir lá para cima mais uma vez, no ponto mais alto,
acender um cigarro e ficar divagando sobre esses poucos dias no Rio, posso
garantir que estou fazendo isso muito bem. Meu espírito sorri cada vez mais.
Obviamente, eu também. E quem vai me dizer o que eu devo fazer? Quantas vezes
já trocaste o certo pelo duvidoso, em busca de uma felicidade maior? Teve
coragem, ou se conformou com seu medo e sua segurança? Quantas vezes você
deixou a vida entrar, livre, sem nada para interceptar essa beleza, esse
fenômeno da natureza que ninguém sabe explicar para “que serve”, finalmente?
Enquanto isso, vou seguindo meu caminho, ouvindo a voz do meu coração e só
tenho uma coisa para dizer: apesar das dúvidas e da dor que esse caminho exige,
muitas vezes gigantes e profundas, nada mais belo do que levantar vela e deixar
que o curso da natureza me leve, assim como o mar leva o barco na direção que o
vento e a correnteza apontar. Se vai vir tempestades? Tem nada não. Quanto mais
ando, mais estou preparado para elas. E, se naufragar, também estou mais
preparado para não me afogar. Agora, viver indo e voltando todos os dias para o
mesmo lugar, obedecendo aos abusos dos patrões (abusos sim), por um salário que
não vale o tanto de suor derramado durante o mês trabalhado, isso sim,
mataria-me sufocado. Morreria afogado, e o que é pior: estando fora do mar. Para
ganhar dinheiro, tenho minha própria força e é com ela que eu vou correr atrás...
Sei que a vida não é brincadeira, mas eu continuarei brincando de viver, afinal
de contas, ela é uma só.
E,
enquanto correm pra lá e pra cá, sem sair do lugar (falo interiormente,
principalmente), eu seguirei seguindo segundo minha alma.
sábado, 26 de outubro de 2013
É tanta vida, tanta vida, cada vez mais vida, dentro
de mim...
Que as coisas lá fora parecem mortas...
Mortos-vivos, passeando com seus sorrisos plásticos
e seus brinquedos de metal
e suas mentiras
E minha ressurreição, tão esperada por mim,
tão desesperada pelo meu coração,
que bate como se batesse em si mesmo,
já dura mais que três dias, três semanas, três
meses...
Já li todo tipo de livro, já dedilhei meu violão,
já não fiz absolutamente nada...
Nada de paixões...
Só eu e minha solidão
Amor febril
Já passa dos 50°, minha alma
Meu corpo, nem meço mais
Mas quando vejo uma estrada, sorrio...
Sou um rio de risadas
Uma placa invisível, indicando-me:
Venha... seu lugar é aqui
E é nessas horas,
que ouço vozes lá fora,
enquanto, dentro do feto,
dentro de mim,
espero
Não vejo a hora do parto
Das portas abertas
E em vez de chegar chorando
Chegarei sorrindo
(A vida trata de inverter)
Antes,
eu corria da vida
Agora,
não vejo a hora de eu renascer...
Só precisava achar o meu lugar...
E achei
E descobri que,
meu lugar,
é o lugar nenhum...
Só precisava achar o meu lugar...
E achei
E descobri que,
meu lugar,
é o lugar nenhum...
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
A injustiça é fato
Por mais que seja injusto,
faz parte da sociedade
Será que um dia será justa?
Não sei
Por enquanto,
os que a viveram, ou vivem, na pele,
de forma mais profunda,
de forma mais profunda,
sabem o terror que isso significa
Enquanto outros,
acham que está tudo bem,
o mundo é mesmo assim,
ou nem lembram que isso existe,
o que causa mais dor
aos injustiçados
Aliás,
mais uma injustiça
Os injustiçados,
sofrem dobrado
Por ser injustiçado
E por ser ignorado
Os que têm ciência
da inconsciência coletiva
Independente
de como ela foi adquirida
Está condenado
Aliás,
quanto mais compreendida,
maior a pena
E você
é o seu único advogado
E nem adianta OAB
É a multidão
você
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
Vida sentida,
Um leve vai-e-vem
mergulhada,
desbravada,
lavada,
vivida...
É como um navegar
Um leve vai-e-vem
Que às vezes balança
E lança dúvidas, doidas, doídas...
ao ar
ao ar
Às vezes parece que vai naufragar
Mas quando o mar amansa
Bate uma paz tão mansa
O peito balança
Junto com o balanço do mar
O navegar parece uma dança
É quando aquela paz fodida se lança,
dentro da gente...
... Nada de lançar âncora ao mar
É levantar vela
E se deixar levar
.
.
.
Um pesado vai-e-vem
Como as pesadas embarcações
E tudo que precisamos fazer
É mantê-las flutuando...
... voando por cima do mar
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Clarice, minha menina
Quando minha mãe estava grávida de mim, no início da década de 80, jamais poderia imaginar que quando eu me debatia dentro de sua barriga, às vezes com força, já era uma briga pela minha liberdade. No dia 21 de agosto, lá estava eu inserido nisto que chamamos de vida e que até hoje ninguém soube explicar de onde viemos, para onde vamos e para que estamos aqui. Não chorei... E logo me deram uns tapas, que é para mostrar como funcionam as coisas por aqui.
O parto
A porta
Aberta
A vida
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Quando eu falava em cair na estrada,
minha mãe, tadinha,
achava que isso era passageiro
O passageiro sou eu, mainha!
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(...) Aí é que entra minha menina, Clarice. Quando eu ainda estava no banco, juntei mais ou menos 160 frases que escrevi em meu twitter, fiz um livro de bolso e distribuí mil exemplares. Um dia, depois de dar um para uma cliente, ela olhou nos meus olhos e perguntou-me, depois de ler umas quatro frases: o que você está fazendo atrás dessa máquina?
Uma semana antes, uma amiga tinha falado comigo pela internet sobre a gente fugir em uma Kombi, uma brincadeira ali de momento, só uma maneira de extravasar, protestar contra o tédio, sem seriedade nenhuma. Aí juntei esses dois acontecimentos mais o filme que eu tinha assistido há um ano atrás, Na Natureza Selvagem, um filme que mudou minha vida, que ajudou a construir mais um degrau desse espírito viajante, e um degrau dos mais altos. Ainda entrou nessa mistura o livro O Estrangeiro, de Albert Camus, que também influenciou-me bastante... Além de tantos outros...
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(...) Fazia um dia lindo quando saí para comprar o jornal e procurar nos classificados uma Kombi, meu primeiro carro, lamento decepcionar os mais vaidosos. Vi uns cinco anúncios, olhei duas e fiquei com a segunda. Feitas as negociações no outro dia, meu pai, que estava me ajudando, saiu dirigindo a Kombi na frente e eu e Thiago Nuts atrás, que já ia tirando umas fotos dela, no carro de minha mãe. Já na segunda curva, quando meu pai entrou na avenida, ele dá sinal para a direita e encosta o carro. Parei na frente e esperei um pouco. Lembro do frio na barriga desse momento e uma vontade de rir enorme ao mesmo tempo. Caralho... Isso é para testar? Será? Que seja... Meu ponto forte é não desistir.
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(...) Muitos me perguntam por que Clarice e, sim, é por causa dela, Clarice Lispector. Fácil entender por que:
“Suponho que me entender não é uma questão de inteligência
e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca ou não toca”
Seja um Santos Dumont em sua alma
Suba no monte
Faça ela voar
Tem um monte delas presas,
presas fáceis para o sistema
Não tema!!
Escolha bem o seu rei:
Um outro qualquer
ou você mesmo
Vá, arrisque
Não corra o risco de sua vida escorrer pelo ralo
De escorrer pelos dedos
Não seja só mais um dado
Um CPF e uma foto 3x4
Não morra tão cedo
Viver não é só respirar
Isso é só o começo
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À venda nas livrarias ou pela internet:
http:// www.livrariasaraiva.com.br/ produto/4896079
http:// www.livrariacultura.com.br/ Produto/LIVRO/ CLARICE-MINHA-MENINA/42125124
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quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Chegando no Rio...
Eram
5:00h quando acordei. A manhã, ainda espreguiçando-se, se anunciava.
Espreguicei-me, coração em disparada, e fui tomar meu banho. Mais um dia
diferente em minha vida, viagens, novos horizontes: Rio de Janeiro.
Tive
que ir de ônibus, por causa do preço da passagem: entre o dia em que decidi ir
e o dia que viajei, apenas uma semana. Outro motivo que me fez ir de ônibus,
foi uma parada na Bahia, de três dias. Mas isso não foi problema, pelo
contrário: passaria por vários lugares que passei com Clarice, o que seria (e
foi) maravilhoso. Na nova viagem, lembranças próximas da viagem anterior.
Os
últimos meses em Aracaju foram sufocantes, um período de inúmeras dúvidas, sem
saber o que fazer e nem para onde ir, depois de lançado e divulgado o livro.
Precisava de algo novo, do tamanho do sufocar, mas não tinha expectativa nenhuma,
o que me sufocava ainda mais. Até que, cansado de estar cansado, resolvi
relaxar, deixar as coisas acontecerem naturalmente, tentando livrar minha mente
das preocupações. E foi aí que as inúmeras coincidências trouxeram-me ao Rio. Mesmo
assim, até então, o sufocar permanecia, mesmo com essa nova caminhada à vista.
Além disso, poucas garantias para essa nova empreitada: eu estava me jogando.
Passado
os três dias na Bahia, saí de lá com uma dor do tamanho do Universo, daquelas
de doer além do além, o que eu chamo de fratura exposta da alma... Coisas do
coração. E foi assim que fiz a viagem de quase 24h até o Rio: uma dor feroz, a
excitação de uma nova caminhada e as lembranças bem próximas de uma viagem
inesquecível, que, claro, sempre me toca de uma forma profunda e peculiar. Um
caldeirão de emoções fervia dentro de mim, o que, muitas vezes, transbordava...
As velhas lágrimas... Doce e sal se misturavam.
No sábado pela manhã,
desembarquei na rodoviária do Rio, em reforma, o que dificultou um pouco até eu
chegar a um taxi, já que eu estava empurrando uma mala gigante, pesada (cheia
de livros), uma outra, também pesada, em outra mão, o violão nas costas e a
mochila virada para frente. Dormi quase nada no ônibus, e quase nada na noite
anterior, ainda na Bahia, era quase impossível. Ao chegar no Hostel, a primeira
surpresa: o preço que o amigo, que já está morando aqui, me disse que seria para passar o mês, para eu
morar, não deu certo. Isso já complicou um pouco meus planos. Mas tinha outras
opções. Liguei então para o senhor que conheci em Campos do Goytacazes, durante
a viagem com Clarice, que dividiu quarto comigo, já que ele trabalha e mora no
Rio. Outra surpresa: já não trabalha e nem mora mais por aqui. Nesse exato
momento, ele está de mudança. Ainda havia outra opção: o namorado de uma amiga
minha já tinha cedido, gentilmente, um quarto em sua casa durante um mês, de
graça, e só não fui direto pra lá, porque fica em São Gonçalo, depois da ponte,
o que dificultaria, já que o trabalho no quiosque seria na praia do Leme...
Seria muito longe. Claro que lá seria a melhor opção, independente da
distância. Mas com o preço do Hostel em que eu estava esperando e pela
localidade, compensaria o Hostel. Entrei em contato com essa amiga também, só
que ela viajou e só retornará na quinta e, até lá, não dá pra resolver nada.
Não teve jeito, tive que ficar no Hostel, mesmo com o preço acima do que estava
programado. Tudo isso, misturado ao meu coração ainda fragilizado, com a dor feroz
que ia e voltava quando bem entendia. Foi tenso. Mesmo assim, bola pra frente.
Eram os primeiros obstáculos da viagem, era a nova realidade, já nas primeiras
horas depois do desembarque. E se assim foi, que assim seja. Para que lamentar
ou reclamar?
Esse amigo veio ao meu encontro,
logo que cheguei, e juntos fomos para a praia (a famosa praia de Copacabana, que
fica há uns 20 minutos daqui), para eu começar a explorar as ruas do Rio de
Janeiro. Levei o violão, sentamos na areia, começamos a tocar e a tomar uma
cerveja, para brindarmos esse encontro, que teve início em Minas Gerais (os
dois viajando), que continuou em São Paulo (onde ele morava e onde eu estava,
ainda viajando) e, agora, no Rio, mais uma vez, nós dois viajando. Não sou de
tomar banho de mar, mas dei um mergulho para o batismo. Enquanto tocávamos, a
energia da cidade penetrava pelos meus poros, algo dentro de mim se
transformava, arrepiava-me e, de vez em quando, eu gritava, quando dava
vontade, a esmo, no meio da multidão que curtia a praia: caralhooooooo. Turistas
nos filmaram, pessoas curtiam ver a gente ali tocando, tudo novo, de novo.
Minha alma já voltava a respirar normalmente, aos poucos... Doses cavalares de
viver.
Uma das coisas que me fez vir
assim tão rápido, tomar a decisão tão rápido, é que esse mesmo amigo já tinha
encontrado um lugar para eu trabalhar, o quiosque que já falei. Depois da
praia, fomos para o apartamento em que ele estava morando (que é da dona do
quiosque), comemos um pedaço de pizza e ficamos lá conversando, já colocando as
idéias relacionadas à nossa arte para funcionar. Como eu estava muito cansado,
falei que só começaria a trabalhar no início da semana, no quiosque. Mas lá
fiquei sabendo que ia ter um evento à noite e que só tinha esse amigo para
atender. Pensei, pensei, não teve jeito: além de dar uma força, eu conseguiria
uma grana, o que me ajudaria a pagar o Hostel. E assim foi... Uma noite sem
dormir, trabalhando duro, duas noites mal dormidas, as doses de vida e uma
dor... Um trilhão de coisas passaram pela minha cabeça... Será que fico aqui
mesmo no quiosque? Não sei se vale a pena. Será que consigo me virar só vendendo
poesia na praia? Será que não estou me precipitando? Não conseguia tomar uma
decisão e, enquanto isso, corria pra lá e pra cá, para atender as mesas, lavar
pratos, fazer sucos, etc. Chegamos no quiosque às 18:00h e saímos às 6:00h,
depois de limpar o lugar e desarmar todas as cadeiras e mesas. Hora de dormir?
Ainda não... Cansado estou agora, enquanto escrevo... Só depois continuarei...
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Novos Horizontes
Há um pouco mais de um ano, passávamos (Thiago, Clarice e eu) pela ponte Rio-Niterói. Nossa ideia era pegar a orla do Rio e, depois, seguir pela Rio-Santos até São Paulo. Mas, ao atravessar a ponte, não conseguimos achar o caminho e fomos parar já próximos da rodovia Dutra, o que nos fez seguir em frente em direção a São Paulo. Apenas falei: um dia a gente volta.
Meses depois, eu chegava em casa, na casa dos meus pais, em Sergipe, mais uma vez apenas passando pelo Rio, e também sem parar... Sem crise... Um dia a gente volta.
Meses depois, eu chegava em casa, na casa dos meus pais, em Sergipe, mais uma vez apenas passando pelo Rio, e também sem parar... Sem crise... Um dia a gente volta.
Agora, já com o livro lançado, livre para voar novamente, esperei, mais uma vez, que o vento trouxesse meus próximos passos pela janela do meu quarto, pacientemente (não sem umas duras recaídas, claro). E, de repente, sinais... Coincidências... Chamem como quiser, isso é o que menos importa. Fiquei ligado... Era o vento começando a soprar em uma nova direção...
De repente, sinto o vento,
antes calmo,
agora tão intenso...
Levanto-me, atento,
e nem tento
saber
qual é a direção
Apenas fecho os olhos,
e vou...
É hora de voar novamente
Nesse tempo em que fiquei em Sergipe, conheci um cara que gostou dos meus escritos e nos tornamos amigos. Amigo de longas conversas, em mesas de bar (como no dia que viramos a noite e ficamos até às 15:00h), ou na sala de um apartamento, ou em qualquer lugar. Entre essas conversas, a vontade dele de morar no Rio de Janeiro. Fiquei com isso na cabeça. Antes, conversando com outro amigo, de longa data, ele também falava em ir morar lá. Depois, conheci uma menina, através desse novo amigo, que já morou no Rio e que estava embarcando para lá, para passar uns dias. Conversamos algumas coisas sobre o tempo que ela morou lá. Mais Rio de Janeiro em minha cabeça. Isso começou a me cutucar: Por que não Rio? Mas só lancei a semente e deixei que a natureza cuidasse do resto.
Por coincidência (?), logo no outro dia em que plantei a semente, uma amiga do Rio, que também conheci por causa dos meus escritos, ligou-me e conversamos a respeito de eu ir para lá, o que já tínhamos conversado há vários meses atrás. E fazia dois meses que não nos falávamos. Um telefonema inesperado. Aquilo já foi um sinal mais forte. O coração já começou a disparar, a mandar-me recados mais concretos sobre o meu destino próximo. Começou a movimentação dentro de mim... Mesmo assim, simplesmente continuei deixando rolar. Apenas sorria, serenamente, achando graça disso tudo.
E já dois dias depois, que á para não deixar dúvidas, um amigo meu que conheci em São Thomé das Letras, no sul de Minas Gerais (durante a viagem com Clarice), que morava em São Paulo, que largou tudo para viajar também, que está morando no Rio de Janeiro agora, escreveu em seu blog sobre seus dias recentes no Rio. Em um dos textos, ele disse que estava trabalhando em um quiosque na praia. Falei com ele e perguntei se tinha uma vaga para mim. Tinha. Do que mais preciso? Até um emprego caiu em meu colo. Não preciso mais de sinal, nem de coincidência. Chegou a minha vez, a hora de agir. Segundo meus cálculos sensitivos, é para lá que o vento sopra agora. Que venham os novos quilômetros de estrada e de espírito para percorrer. Meu espírito viajante sempre esteve de prontidão, se o caminho a percorrer é as profundezas do meu ser. Sempre ligado... Rio de Janeiro, eu disse que voltava... Em janeiro, sem trocadilho nenhum, pretendo dar um jeito de pegar Clarice... Claro que ela tem que estar lá também.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Deixo a pessoa se sentir à vontade,
quando sinto que ela está me enganando
Aí ela vai se entregando,
por inteiro,
e me entrega a mentira,
de mão beijada,
escancarada...
Ou também,
erro mesmo,
sem me preocupar,
quando não consigo (mesmo) me controlar
Deixo estar...
Aí posso sentir
o poder
de compreensão
O tanto que falam que entendem de amor...
Tudo depende, de como estou
Leve ou pesado
Sempre procurando-me,
não é fácil
De qualquer forma,
Tiro o peso de minhas costas
Esse sou eu
E o que tenho de melhor,
o que eu considero fundamental,
tem um preço:
Compreender
Ou nada feito
E continuo a seguir só,
o meu caminho
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
sábado, 5 de outubro de 2013
Já provei do caos
Já provei da calma
Já provei da carne
Já provei da alma
Já estive longe
E também por perto
Já provei o errado
E senti o gostinho do certo...
E quem é você, pra me dizer, quem eu sou?
E quem é você, pra me dizer, quem eu sou?
Já olhei nos olhos
E também fui cego
Conversei com reis
Convivi com servos
Já estive só
E em uma multidão
Já gargalhei sem dó
E chorei na solidão
E quem é você, pra me dizer, quem eu sou?
E quem é você, pra me dizer, o que eu devo fazer?
Já provei da calma
Já provei da carne
Já provei da alma
Já estive longe
E também por perto
Já provei o errado
E senti o gostinho do certo...
E quem é você, pra me dizer, quem eu sou?
E quem é você, pra me dizer, quem eu sou?
Já olhei nos olhos
E também fui cego
Conversei com reis
Convivi com servos
Já estive só
E em uma multidão
Já gargalhei sem dó
E chorei na solidão
E quem é você, pra me dizer, quem eu sou?
E quem é você, pra me dizer, o que eu devo fazer?
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
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