sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Correspondências

Meu querido...

                Minha vida agora é tão doce como são doces suas palavras. Eu que já tentei tirar minha própria vida duas vezes, eu que decidi me isolar do mundo de uma vez, agora tenho tanto gosto de viver, tenho tanta vontade de sair por aí, de andar ao seu lado de frente para o mar, descalços, sentindo o chão, o mundo aos nossos pés, ou de deitar sua cabeça em meu colo em um parque ou uma praça qualquer da cidade, conversando sobre os mistérios e as tragédias da vida, sobre a imensidão do universo, sobre o passado da humanidade, sobre o futuro da humanidade, sobre o amor, sobre o querer bem ao próximo e sobre o prazer e a divindade de conseguir compor canções e de rabiscar poesias. Quero tanto isso que, quem não me conhece, estranharia essa minha vontade de sair de casa, mas é que agora, fora dela, tem você.
                Não há nada melhor do que alguém que nos entenda, principalmente quando é difícil alguém nos entender e, com poucas palavras, mas sem meias palavras, já entendemos tudo por inteiro, sobretudo a profundidade delas que é o que mais nos interessa, que é o que mais nos toca. Existem os indiferentes e os diferentes, e os indiferentes, por mais que pensem diferentes, são todos iguais. E agora tudo em minha vida é diferente. Sua alma desnuda deixou a minha inteiramente nua diante da sua, sem vergonhas, sem pudor, sem timidez, e olha que elas não paravam de se beijar em nossa frente, de se apertarem, de se excitarem... de gemerem. Dispa-se inteiro, meu amor, que eu vou te amar... Inteiro... Até o fundo da alma, do jeito que sei bem que você sabe bem.
                De repente, na fila da padaria, eis que chego lotada de coisas, abraçando os pães e bolos, toda desajeitada e, algum anjo, derrubou a chave do meu carro, o que fez você se virar e, de prontidão, pegá-la e por em uma das minhas mãos. E foi assim que deu pra ver que você segurava um livro da Clarice Lispector, o que fez dá uma fisgada no meu coração. Por sorte, isso ás vezes nos passa, começamos a conversar, era ela o nosso elo: Clarice... Não dava para permanecermos calados. Como eu estava apressada, conversamos aqueles dez minutos e foi o suficiente para eles virarem eternos. Mesmo se um dia a gente se separar de uma vez depois de uma briga, sei que ainda sim quereremos bem um ao outro, do fundo do coração, porque você se importa com a minha felicidade e não apenas com a sua, sei que não sou a peça que falta para preencher um quebra-cabeça seu, sobre isso, o seu está completo, e só assim pode-se amar na totalidade do sentimento. Algumas pessoas amam outras, não porque apenas as amam, mas porque elas preenchem um vazio delas e quando já não precisam mais dela, já não precisam mais amar o outro. Alguns até disfarçam, no final, desejando o bem ao outro mas, no fundo, desejam que a vida se vingue por eles. Os indiferentes... Ainda bem que você é diferente.
                Vamos marcar para nos ver, só se passaram vinte e quatro horas, só te vi uma vez e rápido, mas já tenho saudades, uma saudade deliciosa, com sabor de chegada em vez de partida. Não é uma delícia? E não é pressa, poderíamos até esperar mais, está tão bom assim também... Mas é a fome de amor que me faz querer te encontar e já, faz tempo que eu não como, esse prato prinicpal de minha vida, tô laricada ...  

Beijos da sua E.M.

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