quarta-feira, 18 de maio de 2011

Eu não sou gado

Moro na avenida da contramão, sem número..
Moro num mundo de avenidas longas e largas,
sem engarrafamentos
De metrôs e de trens
onde não tem empurra-empurra
Onde ninguém é espremido,
sem ter culpa de nada, coitados
O que ele ou ela fez de errado?
Trabalhou o dia inteiro?
E o prefeito?
E o governador?
Estão no ar-condicionado
Condicionando a temperatura do ar
Num banco lotado de folga
E se for passar pelo trânsito?
Abram alas
Subam nas calçadas
Freie seu carro
Eles precisam passar
Eles não vão ser pisados às 18:00h no trem ou no metrô,
nem ficar parados no trânsito lotado de carros

E sabe de quem é a culpa?
Não é deles
É nossa
Nós que escolhemos
Por que quando vai haver copa, eles melhoram tudo?
Se melhoram, é porque estava ruim...
E se não melhorar, não vai haver copa,
que é para não deixar dúvidas

Não, não
Moro na avenida da contramão, sem número
Onde são verdadeiros os abraços e os apertos de mão
Lá meu coração não se aperta
Fica logo ali, virando à esquerda,
já próximo do infinito

Moro num mundo de gozo pleno
E em pleno sorriso
Caio da cama
E acordo lento
O mundo lá fora
me convida a brincar de animais irracionais
É hora de trabalhar
E ninguém reclama
Até riem
Achando tudo tão normal
E não fazemos nada
Espremidos dentro de um trem
Sendo tratados como gados
Vagões lotados que mais parece um caminhão
levando animais para o abate
E, de fato, isso me abate
Depois, sou o chato, o que pensa demais, o sentimental (com muita ironia)
E sou
Mas se todos fossem chatos que nem eu
Ririam mais e mais
Muito mais
E não tem como eu explicar por aqui
O que é o gozo pleno
Só gozando para ver, para sentir
Venham...
Vocês têm voz
Não existe só a voz deles
Fale, grite, reclame
Eu não sou gado
Por isso reclamo
Já você,
a escolha é sua.

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