Tenho uma dor
Sim, a única certeza desse
momento:
Tenho uma gigantesca dor
Que não cabe no compartimento onde
caberiam todas as dores.
Transbordante...
Digna de suicídio.
Mas não o farei
Ao invés de morrer...
Aprendi a viver...
O que só aumentou minha dor.
E que me aliviou...
Como um gozo depois de incansáveis
penetrações sem prazer...sincero.
Sem orgasmos.
Penetrei nas profundezas da
imundície humana
Nas sutilezas dos fingimentos
Tão bem fingidos
Que, às vezes, nem o fingidor
percebe...
O prato diário que tenho que
engolir...
Goela abaixo.
Silencio.
Morri...
Vivo.
Já gritei...
E os que me ouviram...
Eram só porque queriam ser
ouvidos.
Interesses.
Humanidade desinteressante...
Sou mútuo.
Sou mútuo.
Se meto uma bala em minha
cabeça
Já sei todo o clichê
O egoísta que não pensou nos
outros
Não o farei.
E viverei entre os egoístas
que não pensam no outros.
Sangro em silêncio...
Hemorragia que não estanca...
Mas que aprendi a me deliciar
com o sabor do sangue.
Salvo a natureza e o mistério
das coisas...
Nada me salva.
Morri.
Em silêncio.
E ninguém compareceu ao
enterro.
Tão distraídos, acham que
estou vivo.
Sim, foi anunciado...
Tanto escrevi.
Mas só se identificaram...
Só queriam conforto, serem
ouvidos, serem compreendidos...
E ninguém compareceu...
Só quando for tarde demais.
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