Ainda
em Aracaju, enquanto lia o livro “O Castelo de Vidro”, algo mexia comigo, aquele
cutucar que já conheço: algo vai acontecer. Pensei: lá vem o vento mais uma
vez. Fiquei atento. E, como venho fazendo, deixei rolar. Até que um dia, tive um
sonho, acordei e, antes mesmo de despertar completamente, decidi: vou morar em
São Paulo. No sonho, nada muito claro. Não havia São Paulo, muito menos setas
indicando-me a direção. Apenas sensações... No outro dia à noite, já estava com
a passagem na mão.
Cheguei
antes do Natal e do Ano Novo. Quis, mais uma vez, experimentar a sensação de
passar essas datas, tão comemoradas, comigo mesmo. Quis me sentir, quis ir no mais
fundo do meu “eu”, quis estar longe dos fogos e da agitação... Longe da
multidão. Por que essa “loucura”? É que no caminho que estou, se não houver uma
boa dose de loucura, não me curarei... Curar de quê? Também não sei... Por
isso, para onde o vento tem soprado, tenho ido. A certeza vaga, de tudo que não
sei, é que me leva por aí. E como diria Raul, não sei para onde estou indo, mas
sei que estou no meu caminho.
Deixei
alguns panfletos sobre meu livro em algumas livrarias e cafés, e relaxei por um
tempo durante o período de festas. Sabia que esse “relaxamento” estava com os
dias contados, precisava aproveitar. A partir de janeiro, ia recomeçar a
batalha. Para eu me manter por aqui, tinha que arrumar um emprego.
No Natal,
fiquei sozinho na casa de um amigo, que tinha viajado. No ano novo, sozinho na
pensão que estou morando. Entre uma lida e outra no livro “A paixão segundo
G.H.”, de Clarice, entre uma música e outra no meu violão, ia para escada que
fica ao lado da casa, fumar um cigarro. Na casa vizinha, dava para ouvir a
festa, suas músicas, suas vozes e toda sua programação, igual de todos os anos...
novos. E comentários sobre o ano que passou, e sobre o ano que estava por vir.
E por tudo que ouvi, nunca fui tão feliz por passar o ano novo sozinho... Não é
isolamento da vida real... É que é essa a minha realidade.
E dez dias depois, procurando emprego,
consegui um. No início de fevereiro, começo a trabalhar. Recomeçar outra vez. A
necessidade. Enquanto isso, o meu principal caminho (eu mesmo), continua. O que
isso vai me trazer, o que estou fazendo aqui, será que estou no caminho certo,
será que não estou viajando, será que não estou doente, será que não preciso de
ajuda, será que estou fazendo uma coisa fantástica, será que é uma coisa
simples e normal? Não sei... Vim parar aqui, meio por acaso, justamente para
descobrir. Eu jamais saberia viver com uma dúvida, perguntando-me todos os dias:
“como será que seria?”. Seja o que for, aqui estou... Que venha São Paulo mais
uma vez. Independente dos momentos de angústia, sempre tem aquela fresta de
essência que me diz que estou no meu caminho... O vento tem sido meu
companheiro. Aliás, foi do ventre do vento, que nasceu minhas asas. Seja como
for, faço de tudo para voar... É necessário... Eu não tenho mais chão...
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