quarta-feira, 22 de junho de 2016

Visitando o porão
De dentro de mim
Visita precisa
Visita forçada
Nada mais encontro
Dentro de casa
Que me traga a paz que preciso

Abro a porta
Desço a escada
Encontro outra porta
Outra escada
E mais uma porta
E mais uma escada...

Porão sob porão

Profundidade

E a dor, sem dó
Esporeia o dorso do coração
Que galopa a esmo
O mesmo que não para de bater
O mesmo que não para de apanhar

Quando canso
A dor chicoteia
Para não parar

Quando corro
Canso
Longe...
Não há ninguém por lá.


Quantas travessias, cada vez mais perigosas,
Ainda atravessarão esse meu torto caminho,
Que tanto me entorta?

Quanto de mim suportará, ainda, o peso de não ser,
o que me forçam, sem forçar, a ser,
o que nunca vou ser,
a não ser,
ser eu?

Por isso, recebo o chamado, preciso, imprevisível, misterioso, inexplicável...

Mergulhar

Mares revoltos
Terrenos desertos
Sede, miragens, tempestades, afogamento...

Escuridão

Desnorteado, cambaleante, baleado...

Continuo

Mais uma porta
(já não aguento mais)
Mais um porão

E a dor, sempre
Sempre sem dó
Ignora o sangue que jorra
Feito água...
Meus olhos...
Um mar de lágrimas

Mais cansado, cambaleante, quase caindo, novamente baleado...
Esgotado

Continuo

Mais uma porta
Mais um porão
E já não importa
Se eu aguento ou não

O que importa
É não me entregar
Ajoelhar-me à porta
Da ilusão

E viver a esmo
Em nome do medo
Desejando eternidade
Com uma infinidade...

Das mais filosóficas orações.

De tudo que sei
É que em algum lugar
Encontrarei meu Deus
Não olhando para cima

Mas descendo, sedento, religiosamente,
Ao mais fundo

Dos meus mais tenebrosos porões.

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