quinta-feira, 2 de outubro de 2014

            A vida e seu vai-e-vem. No final do ano passado, os ventos sopraram na direção de São Paulo e, sem contestar minha intuição, embarquei nessa viagem. E já no início do ano, fui chamado para uma entrevista. Fui contratado. A questão grana não era mais problema. Em troca, o preço que se paga, trabalho estressante e cansativo. Até aí, tudo bem, a maioria é assim. Mas meu chefe... Era um explorador e sem consideração. Sei que a maioria dos patrões são, não tenho dúvida. Mas, como posso dizer... Esse meu chefe era mais profundo nesses quesitos.
            Dois meses e meio depois, depois de algumas discussões, algumas um tanto acaloradas, fui demitido. Ele queria uma marionete, um sujeito obediente, que aceitasse calado os seus absurdos, que eram bem absurdos. Tinha que me demitir mesmo. Quando ele me chamou para conversar e noticiou a minha saída, falei para ele: tudo bem, eu entendo. Se eu estivesse no seu lugar, eu faria exatamente o mesmo. Recebia um pouquinho mais que um salário mínimo, salário que faz jus ao nome. Esse preço já era suficiente para pagar o stress e o cansaço. Mas meu chefe ia além. O problema... Era que eu ia também.
            Morei em quarto menor do que o salário mínimo, onde o espaço era só, praticamente, uma cama de solteiro. Estava adorando morar lá, a experiência, e só lamentei por isso. Enquanto eu divagava nos meus dias de folga pós-demissão, resolvi voltar para Sergipe e morar novamente na cidade que cresci, quinze anos depois. Seria o ideal para o livro que estou escrevendo. Só doeu um pouco ter que deixar esse meu “quarto mínimo”. Mas, para seguir adiante, é preciso deixar algumas coisas para trás... O tempo passou, acabou, mesmo que rápido, três meses. Se é para seguir o caminho de mim mesmo, não lamento. Esse quarto é só mais um de inúmeros lugares que já morei. Todos moram dentro de mim e chegou mais um para a coleção.
            Procurei emprego em Estância, cidade interiorana de Sergipe, lugar da minha cria. Cidade onde brinquei descalço em plena rua, jogando futebol, correndo pela praça... Cidade onde ia para o colégio sozinho, com 10 anos de idade. Cidade que não era asfaltada, que não tinha semáforo, cidade ideal para a infância desta alma que escreve essas linhas. Quis voltar para lá e cutucar dentro de mim essas velhas lindas lembranças. Queria que meu cotidiano voltasse para lá, para sentir de perto as mudanças da cidade que já lotou de carros, que tem ruas asfaltadas e semáforos para organizar o trânsito, o mesmo que eu passeava com minha bicicleta, mesmo com minha pouca idade, era tudo muito mais tranqüilo. E eu queria sentir o sabor dessa mudança, enquanto decidia que rumo iria tomar.
            Não consegui emprego. Dois ainda bateram na trave, prometeram, mas não rolou. A vida e seu vai-e-vem. A vida e suas voltas. Quanto mais você sobe, maior é a descida, tal qual uma montanha russa. Acabei ficando em Aracaju, morando com minha mãe. Resolvi procurar emprego por aqui mesmo. O vento soprou para lá, mas acabou antes mesmo de começar, pelo menos do jeito que eu imaginava. Deu errado? Não, nada dá errado. A vida é uma eterna continuação, com direito à regeneração e, da regeneração, pode-se aproveitar alguma coisa para a continuação. Em Aracaju, comecei a procurar, mas nada de ligarem. Até que surgiu um concurso... Olhei as vagas... Dá para eu passar. Uma cidade me chamou a atenção: Rio de Janeiro, quem diria... Eu não disse que voltaria? Era só deixar o acaso rolar.
Meu objetivo maior é uma cabana isolada numa praia, se não deserta, com pouco movimento. Ou uma casa no meio do mato. Não precisa ser longe da civilização... Basta que ela fique em um lugar afastado. Mas, antes de chegar a esse objetivo, ou até ter dinheiro para tal, aproveito para experimentar todos os lugares que me tragam algo, das mais variadas formas, cada cidade com sua cara, cada lugar com suas características. Antes de tomar uma decisão, antes de fazer a escolha de me abster de algo, eu preciso experimentar os opostos para tomar minha decisão.
            Ainda estou estudando e a prova é só em Dezembro. Na verdade, ainda estou decidindo. A vida e seu vai-e-vem. Talvez, concursado novamente. Se for, mais uma cidade nova de se morar. Aqueles dez dias que passei por lá, no Rio, mais valeram como um passeio. Quando decidi voltar para Sergipe, pelas coisas que deram errado, eu sabia que, se fosse para ser, seria. E, pelo que eu sentia, já sabia, pela leveza com que saí de lá... Só não sabia quando... E, quem sabe, não será agora? Mas tudo isso, todas essas coisas, são só minha alma devaneando, o novo, ainda que uma rotina, uma outra rotina... O começar tudo de novo...

            Nesse momento, volto a um estágio que eu já tinha ultrapassado... Mas a vida dá voltas e cá estou eu recomeçando... Tudo de novo? Não, claro que não. O que passou, não é jogado fora. Recomeçar tem mais a ver com continuar, do que com começar de novo. Para poder eu ser quem eu sou, para fazer o que amo fazer, faço qualquer sacrifício. No momento, não há outra saída. Mas qualquer saída, é sempre uma saída. Não foco no que deixou de ser, e sim, em tudo que ainda pode ser... E todas as suas conseqüências... Que venham... A vida segue, e eu seguirei seguindo segundo minha alma. E mesmo que ela se equivoque de vez em quando, lembro da máxima do grande ser: Deus escreve certo por linhas tortas. 

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