Tem me faltado voz
Mesmo em situações bobas
Ao falar com as pessoas
Rio por dentro
Quando me olham meio
assustados
Tenho aceitado humilhações
e calado
Tenho fingido que não
estou vendo
Tenho fingido que não foi
comigo
Tenho deixados todos os
seres à vontade...
Para fazerem o que
quiserem
Tenho deixado pisarem em
mim
Meus calos, já tão pisados,
tão calejados...
Tenho aceitado tudo
Ainda que todos os limites,
do meu suportar
Tenham sido ultrapassados
Exercício diário
Tenho andado desarrumado
Tenho um quarto
infinitamente bagunçado
Tenho preguiça de sair de
casa
Tenho mil dilemas sobre a
mesa
Mais mil sob a mesa
E muito, também, tão bem,
eu tenho chorado
Tenho andado cabisbaixo
Distraído do que se passa
por aí
Nas festas, nas praias, na
mídia, nos rios, nas cachoeiras, nas lagoas, nas ruas...
Até minha conta no banco...
Tá quase abandonada.
Mas quando eu virar a mesa...
Verão com que habilidade.