Nitidez e timidez
Podem
Algumas vezes
Se abraçarem...
Num lindo gesto de amor
sábado, 21 de fevereiro de 2015
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
terça-feira, 10 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
Clarice, linda como sempre...
Aqui em
casa pousou uma esperança. Não a clássica, que tantas vezes verifica-se ser
ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e
verde: o inseto.
Houve um grito abafado de um de
meus filhos:
- Uma esperança! e na parede, bem
em cima de sua cadeira! Emoção dele também que unia em uma só as duas
esperanças, já tem idade para isso. Antes surpresa minha: esperança é coisa
secreta e costuma pousar diretamente em mim, sem ninguém saber, e não acima de
minha cabeça numa parede. Pequeno rebuliço: mas era indubitável, lá estava ela,
e mais magra e verde não poderia ser.
- Ela quase não tem corpo, queixei-me.
- Ela só tem alma, explicou meu filho e, como filhos são uma surpresa para nós, descobri com surpresa que ele falava das duas esperanças.
Ela caminhava devagar sobre os fiapos das longas pernas, por entre os quadros da parede. Três vezes tentou renitente uma saída entre dois quadros, três vezes teve que retroceder caminho. Custava a aprender.
- Ela é burrinha, comentou o menino.
- Sei disso, respondi um pouco trágica.
- Está agora procurando outro caminho, olhe, coitada, como ela hesita.
- Sei, é assim mesmo.
- Parece que esperança não tem
olhos, mamãe, é guiada pelas antenas.
- Sei, continuei mais infeliz
ainda.
Ali ficamos, não sei quanto tempo olhando. Vigiando-a como se vigiava na Grécia ou em Roma o começo de fogo do lar para que não se apagasse.
- Ela se esqueceu de que pode voar,
mamãe, e pensa que só pode andar devagar assim.
Andava mesmo devagar - estaria por
acaso ferida? Ah não, senão de um modo ou de outro escorreria sangue, tem sido
sempre assim comigo.
Foi então que farejando o mundo que
é comível, saiu de trás de um quadro uma aranha. Não uma aranha, mas me parecia
"a" aranha. Andando pela sua teia invisível, parecia transladar-se
maciamente no ar. Ela queria a esperança. Mas nós também queríamos e, oh! Deus,
queríamos menos que comê-la. Meu filho foi buscar a vassoura. Eu disse
fracamente, confusa, sem saber se chegara infelizmente a hora certa de perder a
esperança:
- É que não se mata aranha, me disseram que traz sorte...
- Mas ela vai esmigalhar a
esperança! respondeu o menino com ferocidade.
- Preciso falar com a empregada
para limpar atrás dos quadros - falei sentindo a frase deslocada e ouvindo o
certo cansaço que havia na minha voz. Depois devaneei um pouco de como eu seria
sucinta e misteriosa com a empregada: eu lhe diria apenas: você faz o favor de
facilitar o caminho da esperança.
O menino, morta a aranha, fez um
trocadilho, com o inseto e a nossa esperança. Meu outro filho, que estava vendo
televisão, ouviu e riu de prazer. Não havia dúvida: a esperança pousara em
casa, alma e corpo.
Mas como é bonito o inseto: mais pousa que vive, é um esqueletinho verde, e tem uma forma tão delicada que isso explica por que eu, que gosto de pegar nas coisas, nunca tentei pegá-la.
Uma vez, aliás, agora é que me
lembro, uma esperança bem menor que esta, pousara no meu braço. Não senti nada,
de tão leve que era, foi só visualmente que tomei consciência de sua presença.
Encabulei com a delicadeza. Eu não mexia o braço e pensei: "e essa agora?
que devo fazer?" Em verdade nada fiz. Fiquei extremamente quieta como se
uma flor tivesse nascido em mim. Depois não me lembro mais o que aconteceu. E,
acho que não aconteceu nada.
domingo, 1 de fevereiro de 2015
Liguei os pontos: não ligo mais para você
Entreguei os pontos
Limpei o todo
O limo da alma
Entreguei minha alma
E só enxergavas o todo
O topo do nada
O vazio manifestado
Que só toma forma
Quando sua alma está deformada
Não te culpo, isso não é nada
É o que é comum
E isso não me serve para nada
Limpe o limo
Descalce os pés
Para não sujar o que limpei com tanto esforço, com
tanto cuidado
Pode ir embora, nenhuma dor, em mim, fará morada
Não é qualquer uma que vai fazer bagunça em minha
casa
Pois, minha paz...
É essa minha alma lavada
E só
E da sujeira que ficou
Você até poderia se juntar a mim
Num ato de amor...
Para limpar o que sobrou
E da sujeira que ficou
Você até poderia se juntar a mim
Num ato de amor...
Para limpar o que sobrou
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