sexta-feira, 6 de junho de 2014

Ah, esse abismo...
Entre o poeta e as palavras
Onde foi que eu caí?

Justo eu,
Que quando rasgo um papel
Rasgo um pedaço de mim mesmo
Que quando jogo fora
Penso que joguei algo de mim que não entendi

Ah, nasci desesperado querendo voltar para o útero de minha mãe
Mas já era tarde, bateram-me, pois eu não chorava, não era por medo que eu não queria chegar
Só não sentia-me à vontade...
Já pressentia, desde muito cedo, essa verdade inventada...

Vida é uma coisa
Viver é outra
Fazer poesia é uma coisa
Ser poeta é outra

A caneta e o papel...
Imperdoavelmente, uma continuação do meu corpo
Um membro que muitas vezes arranco de mim mesmo
Nessa busca incessante de me ser

Palavras, palavras, palavras...

Oh, Deus... Oh, Deus...
Por que não me deste o dom de matar minhas dores em silêncio?

Agora, tudo que falo...
Viram-se e falam...
Jogam tudo contra mim...

Todos meus gritos são só meus
Quando vão descobrir?
Não se doam, não dê esse gosto para mim

Nas entrelinhas
Não existem minas escondidas
Apenas verdades, muitas vezes não ditas
Que podem ser confundidas
Com palavras a atacar alguém
Algum inimigo que nunca tive


Não, não estou armado, meu amor

Desarme-se, ame,

e compreenderás

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