quinta-feira, 31 de maio de 2012

Além do além do além...

Como pode, tanto assim,

você ser tão assim,

a ponto de me deixar tonto

um tantão assim?

De tanto você ser assim

Eu fico assim


Por pouco não me perdi:

achei você

Por pouco pensei

que você não pudesse existir


Amor é muito pouco

Versos, por mais que sejam ouro, também,

para descrever o que sinto

sobre esse seu amor além...


amém!

 

Tudo isso é muito pouco,

mas eu preciso muito dizer:

eu te amo um tantão assim!


Assim:

além do além do além..

segunda-feira, 28 de maio de 2012


          Ele acordou e, como fazia de vez em quando, foi para o parque e sentou-se em um banco com seu livro nas mãos. Naquele dia ele estava pensativo demais. Lia um parágrafo e parava para refletir, olhando para longe, para o nada, passando minutos longos nesse estado. Depois de uns 40 minutos, chegaram cinco crianças enquanto ele refletia e seu pensamento foi cortado. Observou minunciosamente cada uma delas, até fechar o livro e deixa-lo de lado.
          Cinco destinos em formação estavam ali. Eram duas meninas e três meninos, observou. Eles pareciam ter uma média de dez anos de idade. Corriam, brincavam, perguntavam, choravam, caíam, aquelas coisas de criança. Mas entre eles, havia um que não corria, não brincava e que não caía. Enquanto se divertiam em um espaço enorme, na grama, ele ficava sentado observando, observando, refletindo e com um livro na mão. Isso chamou a atenção de seu Amaro, já com cinquenta e sete anos. Naquele instante, um filme sobre sua vida apareceu repentinamente em sua cabeça, outrora tão distante.
          Seu Amaro fora casado duas vezes, mas ele decidiu não se casar mais, dizendo que "enquanto a humanidade estiver nesse nível, o amor será uma coisa escassa, rara e para poucos". Muitos já chegaram para ele e citaram um milhão de exemplos de amores que deram certo. Ele apenas falava: "não é desse amor que estou falando, que, aliás, dentro do contexto ilusório que vocês vivem, isso que vocês sentem pode ser chamado de amor. Mas o que eu falo é mais além, mais profundo, e é preciso mergulhar para senti-lo (e não para enxerga-lo), pois ele não vive no raso, tão pouco em profundezas pequenas. Ele está lá no lugar mais fundo desse mar que navegamos, que chamamos de vida". O problema é justamente esse: quem vai até lá? Poucos. Parte do caminho é escuro. E os que chegam lá, passam a perceber a profundidade da vida, tão diferente dos carros que passam apressados e das pessoas que passam igualmente apressadas, e que tanto julgam os outros no seu dia-a-dia.
         E ali, não tão longe, estava o menino. Reflexivo. Totalmente diferente das outras crianças. Uma das moças que os acompanhavam (eram duas), duas vezes chegou perto dele como quem dissesse para ele ir brincar também. Nas duas vezes, disse que não. Ela, na segunda vez, pareceu perder a paciência e deixou o garoto lá mesmo. Sim, seu Amaro sabia: é difícil compreender. Aquela criança já vai crescer entre as profundezas do mar, já vai crescer um tanto distante, vai perceber coisas que poucos percebem, vai amar como poucos amam e, por está lá nas profundezas (é no raso que a sociedade funciona), vai estar só, bem assim do jeito em que ali se encontra: tudo acontecendo ao seu redor e o mundo dele ali com ele, maior que qualquer mundo ao seu redor.
         Seu Amaro quis ir lá, sentar ao lado do garoto, conversar. O garoto parecia ser de poucos sorrisos e seu Amaro sabia que poderia fazer o menino sorrir... e muito. Seu Amaro sabia que poderiam conversar horas e horas uma conversava prazerosa, mesmo ele tendo cinquenta sete anos e o garoto apenas dez ou onze. Seu Amaro sabia que aquele garoto carecia de atenção, já que, para ser notado, você tem que fazer algo notável. O problema é que para serem notados, o garoto via pessoas humilharem outras pessoas, via pessoas se acharem melhores que outras pessoas, via pessoas com uma necessidade enorme de demonstrar poder sobre outras pessoas, ou ainda, via pessoas que não cometiam mal algum, mas o outro era apenas "o outro" que, mesmo que houvesse diálogo e até carinho, tudo não passava de um jogo de intresses com bastante sentimento envolvido. Quando se há amor, mesmo que você não tenha feito algo que seja notável, mesmo assim será notado. "Cadê então o amor que tanto me falam?", perguntou-se seu Amaro. Se amassem mesmo o menino, iam sentar ao seu lado e conversar com ele e deixar ele falar o que ele pensa, o que ele sente e porque que ele era daquele jeito. Mas quem iria ouvir uma criança de dez anos... esquisita?
         Seu Amaro tinha certeza que os pais daquela criança viviam preocupados, procurando soluções para aquele "problema". Seu Amaro nem sabia que aquele garoto já frenquentou dois psicólogos e, mesmo assim, permanecia assim, desse mesmo jeito. De repente, parecia que ia cair uma chuva e todos correram para se proteger, menos seu Amaro e o garoto. Depois de poucas gotas, mesmo com o céu totalmente coberto, a chuva parou. De longe, seu Amaro sorriu em direção ao garoto e o garoto também sorriu. Ele então, finalmente, se levantou e foi até o banco em que seu Amaro se encontrava. Ele então fez umas perguntas básicas para o garoto e logo em seguida perguntou: "Que livro você está lendo?" E o garoto mostrou a ele: "1984", de George Orwell. Seu Amaro ficou impressionado duas vezes: uma com um garoto de onze anos lendo esse livro e outra por ser exatamente o livro que ele estava lendo, já pela terceira vez. E a tarde de seu Amaro foi uma das mais agradáveis depois da última separação há cinco anos atrás. Antes de ir embora, o garoto comentou com ele: "aquela moça ali é minha tia e diz que sou muito quieto, o mais quieto de todos. De fato, ela não me conhece. Não preciso explicar para o senhor que sou mais inquieto que todos os outros juntos, incluindo ela". Não precisa me chamar de senhor, falou seu Amaro. E ficaram ali conversando e rindo juntos até sua tia, um tanto assustada e reclamando (o que você estava fazendo aí com esse senhor? Onde já se viu falar com estranhos?), chama-lo para ir embora. Ele então se levantou, foi andando e sem se importar com os protestos de sua tia, olhou para trás rindo e piscou o olho, o que fez também seu Amaro. Ali começava uma amizade que continuou através de cartas e encontros nesse mesmo parque, e que durou até à morte do pianista que voltou para casa sorridente e mais reflexivo do que quando chegou ao parque. Foi um dia lindo para seu Amaro.

"No fundo do moço" ou "Pelo Avesso"

http://www.myspace.com/ivancosta/

quinta-feira, 24 de maio de 2012

São Paulo...




Virada Cultural...




Uma menina para pra ver um meninos fazendo um som no meio da praça...

O resto da história está aqui:

http://www.negodito.com/literatura-poeta-sergipano-do-asfalto/

Por Debora Lopes: flavors.me/deboralopes

terça-feira, 22 de maio de 2012

Morfina

Alma em brasa
Abraço os versos sobreviventes
(alguns de seus autores até já se foram)

Agradeço imensamente aos que pegaram a caneta, o lápis, que digitaram em sua máquina de datilografar, ou seja lá o que for,
para deixarem palavras

Clarice Lispector um dia escreveu para suas irmãs: "sou doente da alma".

E nessa doença sem cura,

                                              palavras é a minha anestesia


Quem me dera existisse morfina para alma...



                                              Eu seria um viciado assumido

domingo, 20 de maio de 2012

Faltava-lhe ar

Sufocada

Jogou-se pela janela

E só assim conseguiu o ar que lhe era necessário



Para Ana Cristina Cesar
"Tenho uma folha branca
                               e limpa à minha espera:

 mudo convite

 

 tenho uma cama branca

                              e limpa à minha espera:

 mudo convite

 

 tenho uma vida branca

                                e limpa à minha espera."


Ana Cristina Cesar

sábado, 12 de maio de 2012

Sinto Muito!

Sinto muito...
                                       Muito mesmo!

Por isso ando cambaleando,
me debatendo, me segurando...
no vento.

Tomo socos no estômago a todo momento...
Invisíveis
Tão visíveis para mim
(tão doloridos, mesmo assim)

Ando me rastejando,
mesmo em pé,
até onde der

É guerra sem sangue,
onde desde o início,
eu me rendi

Sinto muito...
                                    acho que não sou daqui!

E o que me resta,
são essas migalhas de versos,
um chapéu torto
e tanta vida explodindo dentro de mim

Ponho as mãos no rosto, no peito,
no chão, me desespero...

e grito:

Dói pra caralho sentir

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Seguir viagem...





                   Sempre gostei de estar perto do mar. Quando estávamos em Salvador falei para Thiago, enquanto andávamos pela orla: de um lado o caos e do outro a calma. De um lado a civilização, a correria, os engarrafamentos e os prédios encurtando nossa visão. Do outro, a paz, o infinito, a natureza. E nós bem na linha que separa tudo isso.
                   Gosto do mar porque é ali o máximo que posso chegar onde eu queria estar. Quem sabe um dia eu more no mar, longe de tudo que nos distancia de nós mesmos e dos outros. Longe dessa gente sempre cheia de razão, de verdades próprias como se fossem a VERDADE ABSOLUTA, de julgamentos, de mentiras e de ilusões. Cansei e, essa viagem de hoje me trouxe paz. Viajei o tempo inteiro namorando o mar, ouvindo ele sussurrando amorosidades em meus ouvidos (em vez de buzinas, pressa e reclamações).
                   Quem sabe um dia as pessoas em vez de correrem e acabarem se espremendo tudo no mesmo lugar, aprendam que o lance é levantar a vela e se deixar levar...